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Pessoas óbvias

Não gosto de pessoas óbvias. Ou das pessoas que têm atitudes óbvias.

O que é uma hipocrisia, porque eu sou bem óbvia, às vezes.

Óbvio é um termo que eu uso para identificar pessoas sem personalidade (pelo menos, parecem sem personalidade para mim). Você é fã de animes, mangás e k-pop? Óbvio. É fã de “músicas velhas, mas boas”, mesmo tendo 18? Óbvio. É uma menina e só veste camiseta e jeans? Óbvia.

O que importa aqui é que as pessoas se importam demais com o que os outros fazem e “os outros” passam a se comportar da forma que “as pessoas” esperam que ela se comporte e deixam de fazer o que realmente querem.

Ou seja, as pessoas fazem o contrário do que a sociedade espera, só para ir contra.

Não estou dizendo que você não pode ser fã de animes. Mas, já é esperado. É óbvio.

Pelo menos onde eu vivo, as pessoas “normais” não são consideradas normais.

É difícil gostar de moda e maquiagem, sou fútil. Não posso ser cristã que sou burra. Se eu gosto de romance, sou boba.

Não digo que sou normal, longe disso! Mas isso não é óbvio, porque é o que a sociedade não espera de uma menina inteligente. E, sim, eu me considero inteligente.

As pessoas óbvias odeiam tudo isso. Elas vivem de acordo com a sociedade “culta”. Elas não gostam de coisas populares e se gostam, fazem de tudo para serem diferentes em alguma coisa. E eu não entendo essa necessidade ardente de ser diferente. Eu não faço isso.

Eu digo foda-se.

Vivo do meu jeito. Tento, ao mínimo, me influenciar pelos padrões. Ou eu não me importo em ser influenciada por eles. Ou eu não acredito que realmente existam padrões. Ou eu sou uma pessoa óbvia, também, aos olhos dos outros.

E quer saber? Eu estou bem assim.

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A estação

Aquela estação é fria, triste. E cinza. Tudo é cinza. Não sei se é realmente assim ou se eu apenas vejo tudo cinza. Não sei se é o céu que torna tudo triste ou se é o frio do ambiente que se expande e chega ao céu.

O tempo passa rápido. O trem logo chega e logo vai embora. As pessoas, apressadas, vão e vêm correndo. Eu era uma delas, sufocada. Sufocada pelo que o mundo cobra de mim e eu não tenho condições de dar. Tudo o que eu pensava era em sobreviver dia após dia. Tudo o que eu queria era chegar em casa e não ter que inventar uma desculpa para as bocas famintas que me esperam em casa.

As bocas eram dos meus irmãos. Filhos de mãe morta e pai alcólatra, só tinham a mim. E eu, também filha de mãe morta e pai alcólatra, não tinha ninguém. Tinha apenas obrigações.

Eu fui fraca. Fui fraca demais numa tarde fria de junho, quando o trem demorou demais para chegar. O tempo não passou rápido naquele dia. As pessoas continuavam apressadas. Eu já fui uma delas, mas não sou mais.

O trem chegou; eu pulei. Foi  munha última viagem.

A estação é feia e triste. Meu corpo está frio e minha alma, triste. As pessoas estavam tristes por um momento. Mas o tempo passa. A vida continua. Eu continuo vendo a vida continuar, mas a minha alma está acabada.

Hoje, sou apenas um fantasma da estação de trem.

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Sobre amigos e se sentir sozinha

Oi.
Não vou pedir desculpas pela demora em postar porque eu sei que ninguém lê isso aqui, então…
Você já se sentiu abandonado? Tão só que não importa quantas pessoas tem ao seu redor, você não se sente acolhido de jeito nenhum?
Frase clichê, mas a vida é feita de clichês. Não seria um se muita gente não se sentisse assim.
Eu me senti bem assim hoje. Não fui para a escola por causa de uma ameaça de greve de professores e eu não sabia quem ia. Mas, mesmo assim, uma professora minha foi e, com ela, meus amigos. E depois, meus amigos saíram para comer.
É muito ruim ver a foto da saída com seus amigos quando você está em casa sem fazer nada de muito interessante. Não os culpo, claro. Eu tomei a decisão de ficar em casa hoje.
Não sou muito boa em manter amizades. Na verdade, sou péssima. Nunca mantive uma amizade sequer depois de anos de contato. Todos meus amigos são da minha escola atual (já estudei em outras quatro, além de ter feito curso de inglês e de música) e eu realmente não sei se eu vou ser capaz de mantê-los quando acabar.
Hoje foi a primeira vez que eu senti o fantasma do fim.
Eu olhei aquela foto e imaginei tudo acabando. Tudo acabando para mim, eu indo para longe deles. Nada mais de brincadeiras, nada mais de piadas internas, nada de ficar à tarde para estudar na biblioteca (se bem que eu nunca fiquei estudando à tarde na bilbioteca…).
Imaginei-os seguindo a vida aqui na minha cidade e eu me mudando para estudar em outro lugar (que é o que pretendo fazer).
E foi horrível!
Desde o meu início, com certeza, essa foi a melhor escola em que já estudei. Os melhores alunos e amigos, os melhores (ou quase isso) professores. Muita gente vai me chamar de louca se souber disso, mas eu sou louca mesmo.
A questão aqui é que, além do medo da faculdade, de me tornar realmente independente nos estudos e de saber que o meu futuro depende dos próximos anos, das escolhas que eu vou fazer e… ok, isso está ficando chato.

A questão é que eu tenho medo de ficar sozinha.

E eu senti esse medo enquanto eu estava sozinha em casa vendo meus amigos saindo juntos.